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Como se controla o desenvolvimento dos motores? A contar... fichas!

Quais são as possibilidades de desenvolvimento dos motores de Fórmula 1 e como se quantificam essas alterações, de forma a que só 48% dos componentes possam ser, este ano, renovados? Bem… Este é o exemplo perfeito do lema que, por vezes, parece reger a F1: se podes complicar para quê simplificar?!

Comecemos pelo princípio… As mecânicas V6 turbo híbridas foram adoptadas no ano passado e com um período de utilização previsto até 2020. Em Março de 2014, Mercedes, Renault e Ferrari tiveram de homologar os seus motores, não mais lhes podendo mexer nesse ano, a não ser para melhorar a fiabilidade. Para 2015, o regulamento permitiu-lhes mexer em 48% dos componentes, de acordo com um sistema de «fichas» que é tudo menos simples…

Abra-se aqui um parêntesis para acrescentar que, até 2020, o número de alterações autorizadas em cada ano vai diminuindo: 41% em 2016; 32% em 2017; 23% em 2018; e apenas 5% em 2019 e 20. Frise-se que estamos sempre a falar de alterações para melhorar as prestações dos motores, já que as marcas podem introduzir modificações para resolver problemas de fiabilidade.

Voltando às famosas «fichas», foram atribuídas a cada componente modificável, em número de 1 a 3 consoante a sua importância. Por exemplo, a correia de distribuição vale três fichas, a cambota duas e o sistema de admissão de ar uma, enquanto a bateria vale 4 fichas, divididas pelo seu sistema de gestão (2) ou pelas células internas (2). Outro caso: nas unidades de recuperação de energia cinética (MGU-K) ou do calor do turbo (MGU-H) podem mudar-se os sistemas (2 fichas cada) ou as suas posições (mais 2). Deixamos alguns exemplos no quadro seguinte de quanto «custa» cada alteração:

Turbo (compressor) 2 fichas      Sistema eléctrico 1 ficha
Turbo (turbina) 2 fichas MGU-H sistema 2 fichas
Bomba de água 1 ficha MGU-H posição 2 fichas
Colector de admissão 1 ficha Electrónica do MGU-H 1 ficha
Corrente da distribuição 3 fichas MGU-K sistema 2 fichas
Cambota 2 fichas MGU-K posição 2 fichas
Válvulas 2 fichas Electrónica do MGU-K 1 ficha
Pistões 2 fichas Sistema de injecção 2 fichas
Topo do pistão e câmara 3 fichas Bomba de óleo 1 ficha
Bielas 2 fichas Sistema de lubrificação 1 ficha

Somando todas as fichas, as alterações totais totalizam 66, das quais os construtores de motores puderam, para este ano, usar 32 (48 %). Inicialmente, todas seriam usadas antes da homologação do motor, de novo em Março, até a Ferrari descobrir um «buraco» no regulamento (reconhecido pela FIA) que permitiu estender o recurso a essas fichas por toda a temporada.

Por isso os três construtores que já vinham de 2014 evitaram usar todas as fichas, guardando algumas para evoluções ao longo da época: a Renault foi a que guardou mais (12), seguida pela Ferrari (10) e Mercedes (7). Ou seja, a Mercedes foi a que mais mexeu no motor, tendo agora de se haver com a grande evolução esperada por parte da Ferrari para o G.P. do Canadá…

Quanto à Honda, a questão é outra pois, teoricamente, não poderia mexer no motor homologado em Março, tal como sucedera às outras três marcas na estreia. No entanto, para permitir ao construtor nipónico uma evolução mais rápida, ficou determinado que pudesse dispor da média das fichas deixadas por usar pelos outros três, ou seja, a Honda tem direito a 9 fichas para desenvolver o seu motor este ano. Como se vê, tudo muito simples…


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Acerca do Autor

Enviado-especial do jornal «A Bola» a largas dezenas de Grandes Prémios, nunca deixou de reportar sobre o Mundial, tendo nos últimos anos alargado a sua experiência aos comentários televisivos.