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Ferrari e Mercedes abandonam F1? Movimentações políticas em curso!

Desde meados de 2017 que os adeptos de Fórmula 1 se têm cruzado, aqui e ali, com notícias de algumas equipas que ameaçam abandonar a disciplina máxima do automobilismo. Em Abril, Christian Horner ameaçou que a Red Bull podia sair; em Junho, a Mercedes esclareceu que não pensava abandonar a F1, mas no final de novembro juntou-se à Ferrari na ameaça de que pode estar prestes a fazer as malas e abalar após 2020; e a propósito de Ferrari, sabemos que, nos últimos dias, Sergio Marchionne, presidente da marca do Cavallino, presidente da Fiat e recém-investidor no capital da Sauber por força do patrocínio da Alfa Romeo, voltou a ameaçar que leva toda a gente embora se não gostar do que vê à frente.

O que se passa, afinal? Na verdade, as ameaças fazem parte de um jogo. Política, podem chamar-lhe, ou exercício de influência na forma de administrar o «jogo» em que todos estão envolvidos. Não entenda cada uma dessas ameaças como pólvora seca, meras brincadeiras ou mentiras, mas procure ver nelas uma manobra política em cima de um tabuleiro onde todos estão em jogo: federação, organização e intervenientes. Tudo isto vem a propósito de uma situação clara: daqui por três anos, em Dezembro de 2020, tem que estar assinado e ratificado um novo Acordo da Concórdia, ou seja, o contrato ao abrigo do qual a FIA se compromete a tutelar, o Formula One Group (Liberty Media) se compromete a pagar e as equipas se comprometem a competir.

Tudo isto vem a propósito de recentes declarações de Niki Lauda, que abandonou o cargo de comentador residente da televisão RTL na Alemanha (o próprio canal deixa de transmitir a Fórmula 1, se entretanto não renegociar o contrato com a Liberty) para, nas suas palavras, «dedicar todo o meu tempo disponível à equipa Mercedes», onde é presidente: «vou cumprir o meu contrato até 2020, depois logo se vê. É evidente que já pensei na hipótese de abandonar, mas é cedo para estar a falar nisso», acrescentou o austríaco.

Lauda tem que equacionar a hipótese de abandonar, se for intenção da própria Mercedes abandonar. Pode acontecer? Pode. Se a Mercedes não gostar do rumo que a Fórmula 1 irá tomar nos próximos dois anos, e sobretudo se não gostar das condições contratuais que forem impostas para assinar um novo Acordo da Concórdia (será válido, pelo menos, por sete anos, até 2027), poderá tomar a decisão de colocar um ponto final nesta sua (até agora) muito vitoriosa campanha. E a Ferrari pode ir atrás? Sim. Aplica-se o mesmo exemplo, que será válido para todos os envolvidos, incluindo as duas equipas da Red Bull, a Renault que acabou de reentrar, ou históricos como Williams e McLaren: todos podem ficar de fora, se não gostarem de novo contrato que lhes será proposto.

É claro que é muito improvável que aconteça. A Mercedes procura garantir uma distribuição de receitas mais volumosa ou, em contrapartida, menos penalização para as equipas que mais ganham – com base nos pontos conquistados em 2016, a equipa campeã pagou mais de cinco milhões de euros para se inscrever em 2017, e em 2018 deve pagar um pouco menos (4,5 milhões de euros). Noutra contrapartida, a equipa gerida por Toto Wolff e Niki Lauda pode pedir mais compensação monetária vinda das receitas comerciais, um campo onde todas as equipas, sem excepção, pressionam a Liberty para verem reforçados os respectivos encaixes financeiros.

Mercedes, Red Bull, Ferrari, McLaren e Williams, as equipas com mais palmarés recente, recebem compensações financeiras pelo estatuto de importância que têm no desporto. A Renault também negociou o seu «bónus histórico», antes do regresso à disciplina, em 2016, um acordo feito ainda com Bernie Ecclestone sobre o espólio da equipa de Entsone, que em 2015 ainda se chamava Lotus. Todas as restantes equipas são pagas mediante um cálculo dos seus resultados nas últimas três temporadas, dos resultados na última temporada e nos pontos obtidos no último campeonato. Também isto vem da era Ecclestone.

No complexo jogo financeiro da Fórmula 1, que só nos últimos 15 anos somou mais de 13,5 mil milhões de euros de receitas (mais do que a FIFA no mesmo período!), as equipas declinaram participar no capital accionista, tal como lhes foi proposto pela Liberty. Se o tivessem feito, valorizar-se-iam se a F1 em si passasse a valer mais dinheiro, ou prejudicar-se-iam se a F1 passasse a dar prejuízo. As escuderias preferem estar, apenas, a fazer o que sabem, no lado dos que competem, no terreno, e para isso são pagos – dando a ideia de que confiam totalmente no desporto que praticam, mas não o suficiente para se responsabilizarem pelas perdas de audiência ou interesse que ele venha a ter no futuro.

Daí que, neste momento, a principal preocupação de cada equipa seja negociar a sua posição para os próximos dez anos. E aqui, acredite, está todo o cerne da questão, porque neste momento cada formação tem o seu contrato particular dentro do acordo: a Ferrari não quer perder (se possível, quer aumentar) o pagamento por ser o construtor mais histórico; Mercedes, McLaren, Red Bull e Williams têm, todos, acordos diferenciados na forma de receber os pagamentos do Formula One Group e todos querem um chamado bónus «Long Term Stand» como tem a Ferrari; e a Renault tem um acordo de vocação histórica, que também irá procurar manter, se não o puder melhorar. As equipas mais pequenas (Force India, Sauber, Haas) querem, nesta negociação, maior equidade na distribuição de receitas.

Portanto, tudo o que está em jogo é, no fundo, o estabelecimento de contractos individuais dentro do contracto plural e abrangente que é o Acordo da Concórdia. Até Dezembro de 2020 teremos, certamente, mais ameaças de equipas prontas para abandonar a Fórmula 1.

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