«É uma sensação incrível a primeira vez que se consegue fazer a curva 1 a fundo, sente-se o respeito pelo carro, pela pista, o respeito pela velocidade, é uma adrenalina incrível, é o que procuramos enquanto pilotos!». Fernando Alonso não escondia que a primeira experiência na super oval de Indianápolis o tinha encantado, ao fim de uma longa jornada de trabalho, em que ultrapassou as mais elevadas expectativas, até de veteranos como Mario Andretti ou Johnny Rutherford que se deslocaram ao «superspeedway» para assistir ao seu baptismo!
Foi um dia particularmente produtivo, apesar de alguns chuviscos que foram interrompendo de forma breve os trabalhos. A acção em pista começou por volta das 14 horas portuguesas, com Marco Andretti a fazer 10 voltas com o Dallara DW12/Honda para garantir que as afinações base estavam lá, antes de o passar a Fernando Alonso. Que haveria de estar ao volante até… às 20.30 horas portuguesas! Ao todo 110 voltas, com a mais rápida cronometrada a uma velocidade média de 356,825 km/h!
Além da rápida adaptação ao carro, à pista e à velocidade, Alonso passou com toda a naturalidade o «exame» a que todos os estreantes se têm de sujeitar para ficarem aptos a alinhas nas 500 Milhas e ainda trabalhou para a equipa, fazendo medições de consumos em ritmo lento, como quando os carros seguem atrás do «pace car», ou treinando recomeços de corrida.
Mas o espanhol reconhecia que o início não tinha sido nada fácil… «A estas velocidades a pista fica tão estreita… Quando a vemos na televisão ou no simulador parece larguíssima mas, na realidade, à velocidade a que se anda, torna-se mesmo estreita… Tenho de reconhecer que o início não foi fácil… Chegava às curvas e o pé direito parecia que tinha o seu próprio cérebro, não me obedecia, tinha a tendência para fugir sozinho do pedal… Mas depois lá me habituei e consegui passar a controlá-lo», contou com um sorriso como há muito não se lhe via!
No final do longo dia, concluía que teria de rever todas as corridas de 500 Milhas que tinha visto ultimamente… «Agora que já andei na pista e que me pareceu tão estreita, é-me difícil compreender como conseguem andar três carros lado-a-lado àquelas velocidades! Vou ter de ver as corridas todas outra vez e perceber as movimentações, as manobras». Porque, no final de um dia que disse ter sido muito completo – «conheci as muitas técnicas de pilotagem que aqui se empregam e já me fui habituando às afinações que aqui se fazem nos carros» –, há ainda aspectos em que se diz impreparado.
Mais concretamente em dois: «O meu maior desafio será andar no tráfego, é algo em que que teremos de ir pouco a pouco, hoje andei sozinho. Mas tenho a melhor equipa para aprender isso, somos seis carros e eles vão ajudar-me a perceber melhor esse aspecto. O outro aspecto que ainda tenho de aprender é afinar o carro durante a corrida. Os pilotos fazem ajustes permanentes no carro, tanto no volante como nos ‘pit stops’. Nesse aspecto não estou ao nível deles, ainda não consigo sentir bem o carro. Ainda não sou eu a guiar o carro, é mais ele a guiar-me…».
Neste seu teste, e para se ter uma ideia das velocidades a que se anda em Indianápolis, Alonso tinha a lamentar duas baixas… Dois pássaros na curva 3 que não tiveram tempo de fugir. «Nem os vi! Houve um terceiro que ainda levantei o pé para o poupar, salvei uma vida! Mas no dia da corrida duvido que o faça…», dizia, provocando alguns risos entre os jornalistas na conferência que deu no final do longo dia de testes.
Em que, sentindo-se sempre muito apoiado pela equipa Andretti Autosport – «têm olhado muito por mim, o Marco até afinou o carro a pensar em como eu o deveria sentir» –, deixou bem claras as suas prioridades na primeira experiência nas míticas «Indy500»: «Para já venho para viver uma grande experiência, não posso perder essa perspectiva. Venho à maior corrida do Mundo e sou um dos 33 pilotos na grelha, o que já é uma coisa fantástica. Mas já se sabe… Quando se fecha a viseira, ninguém gosta de ser 2.º! Portanto, primeiro desfrutar da experiência, mas somos todos competitivos e quando lá estamos dentro procuramos fazer o melhor».
Agora, Fernando Alonso vai, finalmente, ter uns dias de repouso, preparando-se para o G.P. de Espanha. «Desde o G.P. da Austrália, em finais de Março, que não vou a casa…», contou. Mas logo que termine a corrida de Barcelona, voltará para Indianápolis, começando a semana de treinos no dia 15 de Maio, preparando a grande corrida, a disputar a 28 de Maio… horas depois do G.P. do Mónaco, onde será substituído na McLaren por Jenson Button.