Fernando Alonso foi a principal «estrela» da conferência de imprensa que cinco pilotos costumam dar na véspera do primeiro dia de treinos. Centenas de jornalistas quiseram saber, de viva voz, o que se passara com o espanhol. Sabendo também, porque a McLaren assim o determinou, que era a única vez no fim-de-semana em que Alonso falaria sobre o sucedido. A partir de agora, declarações só sobre o Grande Prémio…
«Está claro que houve um problema no carro, mas os dados da telemetria não o mostram», começou por dizer, desmentindo de imediato a tese da rajada de vento logo apontada pela McLaren como justificação para o acidente: «Não sei se viram o vídeo [de uma câmara de segurança do circuito], mas nem mesmo um furacão teria desviado o carro à velocidade a que eu seguia». Desde o início que a explicação da rajada de vento não «colava» muito bem, essencialmente porque o espanhol rodava devagar no momento do acidente.
Mas Alonso esclareceu: «Encontrámos um problema na direcção na curva 3 que se terá bloqueado quando o volante estava virado para a direita… Mas como nada o demonstra nos nossos dados, a equipa decidiu acrescentar novos sensores. Por outro lado, eu usava afinações diferentes da direcção assistida em função do meu estilo próprio de pilotagem. Mas agora as minhas afinações são iguais às que o Jenson [Button] e o Kevin [Magnussen] usaram na Austrália e durante toda a época passada». E acrescentou: «Agora temos o carro mais seguro da grelha e eu devo ser o piloto mais observado pelos médicos da história da F1!».
Numa conferência em que foi, naturalmente, o foco das atenções, Alonso comentou ainda todas as histórias e rumores que foram sendo veiculados, começando pela perda de memória: «Não, não acordei no hospital a julgar que estava em 1995 e a falar italiano!», disse com um ligeiro sorriso. «Perdi a consciência mas não foi logo após o acidente, nesse momento estava perfeitamente consciente, tinha acabado de desligar a comunicação por rádio. Recordo tudo, os tempos por volta, as afinações, a saída do Vettel por quem passei, os botões em que carreguei, os comissários a chegar… Nunca perdi a consciência, se assim fosse tinha-me despistado para fora, nunca para dentro da curva. O volante bloqueou-se, reduzi de 3.ª para 2.ª e travei, mas alguns dados dessas acções perderam-se, a tecnologia de ponta que temos não abarca ainda tudo, por isso temos agora alguns sensores novos adicionais».
«Foi uma comoção que me levou ao hospital onde cheguei em boas condições. Há um período, dentre as 2 e as 6 da tarde que não recordo, mas foi mais pela medicação que me deram no helicóptero e pelos próprios testes no hospital. Mas lembro-me do acidente e de tudo o que se passou».
Agora que está de volta, Alonso mostra-se tranquilo: «Não tenho mais medo agora por causa do acidente. Os desportos motorizados são perigosos, umas vezes temos acidentes em que destruímos o carro e não nos sucede nada, noutras é ao contrário, depende da zona do corpo. Às vezes levas uma vida nos limites e não acontece nada e depois sucede algo quando vais a passear na rua. Já me sentia bem para ir à Austrália mas optei por seguir os conselhos médicos. Mas foi duro ter de ver a corrida pela televisão…»
Quanto ao que o espera no McLaren/Honda, o piloto espanhol não tem ilusões: «Para já, estou feliz por finalmente iniciar a minha época. O circuito de Sepang sempre me deu sorte, primeira ‘pole’, primeiro pódio e três vitórias com equipas diferentes! Mas sei que será um fim-de-semana difícil, para mim será como uma sessão de testes, pois tenho ainda muito que aprender do carro e ganhar confiança ao volante. Este é o momento mais duro da minha carreira mas faço tenções de o ultrapassar. Por agora é verdade que estamos lá muito atrás e que vamos ser muito criticados, e justamente, mas temos de encarar este projecto a longo prazo», concluiu.