Conta, quem assistiu, que foi verdadeiramente confrangedora a conferência de imprensa da McLaren após a corrida de domingo, no Bahrain… A Honda tinha tido, talvez, o seu pior fim-de-semana, com nada menos de quatro quebras de MGU-H, a unidade híbrida que transforma a energia térmica do turbo em energia eléctrica, algumas delas novinhas em folha! E Stoffel Vandoorne nem tinha arrancado para a prova, depois de ter ficado parado a caminho da grelha. Isto logo no Bahrain, em frente aos responsáveis do fundo que detém 50% das acções da McLaren Applied Technologies…
Yusuke Hasegawa, responsável da marca nipónica, não sabia o que dizer, como era possível aquele componente não aguentar mais que algumas voltas quando era suposto durar cinco fins-de-semana inteiros… Apenas dizia que as falhas se deveriam «talvez» às características do circuito e às condições climáticas… Alguém que se «atreveu» a tentar amenizar a conversa, perguntado a Alonso se o motor, mesmo sendo pouco potente – calcula-se que o défice se situe nos 120 cv! –, era ao menos agradável de usar levou logo com uma resposta… à Alonso: «Não me interessa muito a utilização do motor se nem uma corrida ou uma volta de qualificação consigo terminar!».
Ao longo da corrida, o espanhol voltou a não calar a sua revolta quando dava tudo o que tinha para ganhar lugares nas curvas e depois vi os adversários passar por si nas rectas. «Como é possível?! Ele estava a 300 metros de mim e acaba a recta à frente!!», gritava pelo rádio ao ser passado por Esteban Ocon, cujo Force India tinha quase 15 km/h a mais de velocidade máxima… O McLaren/Honda nunca passou dos 315,6 km/h, face aos 331,7 km/h conseguidos pelo Mercedes de Lewis Hamilton! «Nunca guiei com tão pouca potência na minha vida, é inadmissível!», desabafava o asturiano pelo rádio, antes de também ele abandonar com mais um MGU-H destruído que provocou inclusive danos graves no motor V6…
Após a conferência, foi para uma sala ter uma conversa com Hasegawa, à vista de todos, através dos vidros. Quem assistiu, do lado de fora, definiu-a como animada, mas sem discussões, apenas uma viva troca de opiniões. Alonso anda claramente frustrado… «Não é admissível o que sucedeu ao Stoffel», defendeu. «Ele farta-se de trabalhar para a equipa e não consegue sequer partir para a corrida?! Por favor…».
Neste momento, cada piloto vai já na terceira unidade MGU-H, sendo que tem apenas quatro para todo o ano, antes de começarem as penalizações na grelha… É, pois, natural que comecem a pensar de que valerá uma eventual melhoria, mesmo que apareça, se depois estarão constantemente a ser relegados vários lugares para trás?...
O contrato de Alonso com a McLaren termina este ano e, apesar dos esforços e do optimismo expresso por Zak Brown, o novo líder da equipa, não se vê como conseguirá manter o piloto espanhol. Desse esforço faz parte esta «distracção» das 500 Milhas de Indianápolis, para ver se o consegue pôr a lutar por uma vitória ou pelos lugares cimeiros para lhe acalmar a fome com que anda… Mas, sem melhoras do lado da Honda, não haverá grande volta a dar à situação. E com as portas de Mercedes, Ferrari e Red Bull fechadas, o espanhol parece estar a virar-se para a Renault, apostando na evolução da equipa onde foi bicampeão do Mundo.
Nestes dois dias de testes no Bahrain, a Honda vai experimentar novos componentes no seu motor, mas nada de radicalmente diferente. Também promete uma evolução para Barcelona mas, uma vez mais, nada de gigantesco… O que significa que tão depressa não conseguirá recuperar o enorme atraso para os seus rivais. Depois dos claros progressos verificados em 2016, mais um ano perdido se adivinha, o que já começa a ser insustentável, por muito comprometida que a marca nipónica jure estar com a F1.
Entretanto, também a McLaren jura fidelidade à Honda e já colocou de parte a possibilidade de vir a utilizar motores Mercedes. No «paddock» do Bahrain correu o rumor de que a marca alemã poderia estar disposta a… «emprestar» alguns técnicos que ajudassem a Honda a ultrapassar as maiores dificuldades, mas isso não foi ainda confirmado. «Condenadas» a viver juntas, McLaren e Honda apenas não sabem… se conseguirão aguentar Alonso. «Se lhe dermos um bom carro ele ficará connosco, porque gosta do ambiente da nossa equipa e de trabalhar aqui», garante Zak Brown. O problema é que o tempo já escasseia…