O director desportivo da McLaren foi o primeiro a assumi-lo: «Foi o nosso melhor dia de trabalho do ano e não conseguimos perceber porque correu tão bem…». Também o piloto Stoffel Vandoorne estava meio baralhado com o que acabara de viver e comentava: «Todos os dias deviam ser assim e não apenas um em dois meses… Temos de perceber bem o que aconteceu aqui hoje e repetir tudo isto nas próximas provas».
O «hoje» e o «aqui» foi o segundo dia de testes no Bahrain quando o McLaren/Honda cumpriu 82 voltas sem qualquer problema mecânico, coisa nunca vista este ano! E logo após o pior fim-de-semana, com avarias diárias, em que os MGU-H – genericamente, o componente híbrido que transforma a energia térmica do turbo em energia eléctrica – se «desfaziam» uns atrás dos outros. Na véspera, Oliver Turvey tinha feito 17 voltas num dia inteiro… Não havia explicação para, de repente, o McLaren/Honda funcionar como um relógio!
Mas não só o fez, como Vandoorne conseguiu, com pneus macios, ficar a 0,75 s da melhor marca dos testes, estabelecida no primeiro dia por Hamilton (Mercedes), também com pneus macios. Vale o que vale, porque nunca se sabem as cargas de gasolina e os ritmos de pilotagem… Mas a evolução foi, de facto, notória e McLaren e Honda têm muito que estudar antes da prova russa para poderem replicar o que foi feito naquele segundo dia de testes!
O engenheiro chefe da Honda, Satoshi Nakamura, deu algumas explicações, ainda que muito superficiais: «Depois de tantos problemas com o MGU-H durante o G.P. do Bahrain, estivemos concentrados em analisar as falhas no curto período que tivemos antes dos testes. Adoptámos contramedidas provisórias na nossa unidade de potência [o V6 turbo] e parece que a solução funcionou. Também evoluímos com os mapas da gestão electrónica do motor, proporcionando uma melhor utilização e reduzindo a vibração».
O nível de vibrações do grupo propulsor da Honda era, aliás, outro dos problemas, além da falta de fiabilidade e potência. Aliás, os abandonos de alonso provocados por falhas na suspensão traseira (Austrália) e semi-eixo (China) poderão, em última análise, ser provocados por vibrações em excesso na traseira do chassis…
Nakamura ficou entusiasmado com os avanços exibidos no último dia de testes no Bahrain e olha já mais para a frente: «Embora ainda estejamos aquém dos nossos rivais em termos de rendimento, estamos na direcção certa. O nosso motor tem mais potencial e vamos continuar o seu desenvolvimento, usando toda a informação que recolhemos neste teste. Já temos poucos dias para a corrida da Rússia, mas queremos mostrar evoluções».
Também do lado do chassis pode haver novidades, tendo a McLaren experimentado, no último dia de testes, uma configuração com mais apoio aerodinâmico na traseira. Que supostamente devia ter sido experimentada durante o Grande Prémio mas que não foi possível pelos permanentes problemas mecânicos. «No último dia até pudemos rodar com afinações mais agressivas, o que nos permitiu recolher muita informação. Mais que em qualquer outro dia até aqui, o que nos deixou muito motivados», reconheceu Eric Boullier. Terá, naquele dia de 46 ºC na pista, com vento forte a levar areia para o asfalto, aparecido o «génio da lâmpada» à McLaren?!...